COP 29 e o papel da pesca e aquicultura nas mudanças climáticas

De 11 a 22 de novembro, o presidente do IFC Brasil e IFC Amazônia, médico veterinário e ex-ministro da pesca, Altermir Gregolin, participou da 29ª edição da COP, realizada em Bakur, no Azerbaijão. Gregolin integrou a comitiva brasileira na principal conferência mundial sobre o clima, organizada pela ONU – Organização das Nações Unidas. O próximo evento, a COP 30, será realizada no Brasil, em Belém do Pará. A segunda edição do IFC Amazônia, programado para os dias 23, 24 e 25 de abril, integra o rol de pré-eventos da COP 30.

Após presenciar as discussões entre os países e conversar com lideranças acerca do futuro do clima no planeta, Gregolin apresenta os principais pontos observados na conferência.

Uma das constatações da COP 29, segundo Gregolin, é o fato de que os países não estão fazendo o suficiente para evitar o aquecimento global, sendo que ano de 2024 deve fechar com as maiores temperaturas do planeta já registradas historicamente. E uma das “Preocupações centrais é o possível abandono por parte dos Estados Unidos do ‘Acordo de Paris’, já que o presidente eleito Donald Trump, tomou essa mesma medida no seu primeiro mandato”.

As grandes expectativas da COP 29 eram: - as negociações acerca do financiamento para a transição energética e a mitigação dos impactos do aquecimento global; – e a criação do mercado de carbono, temas estratégicos para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Em relação aos resultados das negociações, Gregolin destaca um avanço e um fracasso. “O avanço se deu com os países chegando a um acordo em relação a regulação do mercado global de carbono. Esta é, sem dúvida, uma ótima notícia para o Brasil, que tem grandes extensões de florestas e um potencial estimado de vendas de mais de U$$ 200 bilhões em Crédito de Carbono”, acredita.

O fracasso nas negociações ficou por conta de quem pagará a conta com os investimentos necessários para evitar o avanço do aquecimento global. “Os países em desenvolvimento exigiram que os países ricos assumissem o compromisso de investir 1 trilhão de dólares ao ano, porém, o acordo possível foi o de um aporte anual de apenas U$$ 300 bilhões”, esclarece. “Sem os avanços esperados neste sentido, esse assunto será discutido na Cop30 na Amazônia em 2025”.

COP 30 no Brasil foi lançada no Azerbaijão

Ainda no Azerbaijão, Gregolin acompanhou o lançamento da COP 30, que será realizada em novembro de 2025, na capital do Pará, Belém.

No lançamento, lideranças brasileiras convidaram as mais de 200 delegações do mundo presentes em Baku para que também estejam na COP 30, em Belém. Ainda durante o lançamento, foram anunciadas medidas e investimentos que visam preparar o Brasil para receber o mundo neste evento de proporção global.

Ao mesmo tempo, as lideranças brasileiras anunciaram medidas que expressam o compromisso com a sustentabilidade, em especial no que se refere à preservação da Amazônia. A redução do desmatamento, a elevação da meta de redução de gases do efeito estufa de 59% para 67% até 2035 e a aprovação no Congresso Nacional da criação do mercado de carbono no Brasil”, resumiu Gregolin.

“A expectativa para a COP30 na Amazônia é grande. As duas COP’s anteriores foram realizadas em países com bases econômicas no petróleo. Agora, será em um outro mundo, no mundo da biodiversidade, da maior floresta do planeta, na maior reserva de água doce do mundo”, afirma Gregolin. O Brasil, segundo ele, já é referência na produção de energia limpa e pode se tornar também uma referência mundial em desenvolvimento sustentável. “Somos uma potência em biodiversidade e sustentabilidade”, argumentou o presidente do IFC Amazônia.

Gregolin foi o homem da pesca na COP 29

“O pescado é a nova estrela do agro, é a produção que mais cresceu nos últimos 10 anos e é melhor alternativa de produção de proteína de origem animal para a região amazônica. O Brasil tem a maior reserva de água doce do mundo, o peixe é produzido sem derrubar a floresta e com baixa emissão de gases efeito estufa”.

“Pescado é a nova estrela do agro, é a produção que mais cresceu nos últimos 10 anos e é melhor alternativa de produção de proteína de origem animal para a região amazônica”

O médico veterinário Altemir Gregolin foi Ministro da Pesca entre os anos de 2006 e 2010. Atualmente, é professor da Fundação Getúlio Vargas e consultor. Gregolin é ainda o presidente dos eventos focados na pesca e aquicultura IFC Brasil, Expomar e IFC Amazônia.

Gregolin acredita que o setor de Pescados tem um importante papel no âmbito das mudanças climáticas. O aquecimento global eleva as temperaturas das águas e impacta na redução do oxigênio e na qualidade da água, comprometendo a alimentação e a reprodução dos peixes e provocando sua migração. Por outro lado, “das atividades de origem animal, a produção de peixes é a que tem a menor emissão de gases de efeito estufa, cerca de sete vezes menos que a produção bovina”, exemplifica o especialista.

Gregolin salienta que a sua participação na COP 29 teve como objetivo acompanhar os movimentos ligados ao setor da aquicultura e pesca. “O pescado é a nova estrela do agro, é a produção que mais cresceu nos últimos 10 anos e é melhor alternativa de produção de proteína de origem animal para a região amazônica. O Brasil tem a maior reserva de água doce do mundo, o peixe é produzido sem derrubar a floresta e com baixa emissão de gases efeito estufa”, enfatiza.

A Amazônia, afirma o presidente do IFC Amazônia, já tem uma produção importante de peixes, principalmente de tambaqui, pirarucu e outros, e poderá ser um grande centro de produção de pescado para o mundo. “A região amazônica está estrategicamente bem localizada, perto dos grandes mercados de consumidores – como, por a exemplo, a cinco horas de Miami nos EUA, e não tão longe do mercado europeu. Além disso, o clima quente o ano todo é favorável para a produção de pescados”, enumera.

Oportunidades na produção de proteínas das águas

Atualmente, o Brasil consome 10kg/habitante/ano de pescados, sendo que a média mundial é 21kg/habitante/ano. “Temos muito a crescer e um potencial gigantesco. O Brasil possui um mercado de consumo enorme e, apesar de concorrentes fortes como as carnes de frango, bovina e suína, os mercados interno e externo são muito favoráveis à proteína produzida nas águas. Nos últimos 30 anos, o consumo mundial de pescado cresceu o dobro do crescimento da população. Tudo isso torna o cenário da produção de pescados extremamente promissor”, destaca.

Mais 50 milhões de toneladas de consumo de pescado até 2050

A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) projeta que, até 2050, será necessário produzir mais 50 milhões de toneladas de pescado ao ano para atender a demanda crescente a nível global. A grande questão é: quem vai produzir esse volume?

Gregolin afirma que o sudeste asiático está reduzindo seu ritmo de crescimento da produção. Portanto, outros países precisam ocupar esse espaço. “O Brasil é o país com as melhores condições, a maior reserva de água doce do mundo, uma costa gigantesca, produz milho e soja para a ração, tem conhecimento técnico, entre outras vantagens. Há, portanto, um grande mercado a ser explorado e muitas oportunidades para o nosso país”, acredita.

Da mesma forma que as oportunidades são gigantescas, os desafios também são. “O Brasil cresce na produção de tilápia, mas tem grandes desafios na produção de peixes amazônicos, a exemplo do tambaqui, em que a cadeia não está estruturada e há necessidade de avançar no desenvolvimento de um pacote tecnológico”, afirma. Existe demanda, mas não há escala e nem regularidade de oferta para pensar em exportação, por exemplo, ressalta Gregolin.

A produção do camarão no Nordeste abastece o mercado interno, mas com um potencial exportador importante. Muitos entraves precisam ser superados “Como o licenciamento ambiental em alguns Estados, problemas tributários como a cobrança de PIS/ Cofins sobre a ração para peixe – o que não corre com frango e suíno, uma concorrência desleal”, afirma.

O Estado de Santa Catarina é o maior produtor de ostras, mariscos e mexilhões do pais. “Já a produção de peixes no mar é mais desafiadora que a produção em água doce e reservatórios, por exigir mais investimentos. Há muito a ser feito na produção de peixes marítimos”. Países como Chile e Noruega, por exemplo, são grandes referências na produção de salmão e “nós podemos crescer na produção de Garoupa, Beijupirá, Linguado e Peixes Vermelhos”, projeta Gregolin.

“É preciso reduzir a carga tributária, desburocratizar os processos de licenciamento ambiental em vários estados, investir mais em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, em assistência técnica e capacitação do produtor, facilitar o acesso ao crédito. Apesar dos desafios, estamos no caminho certo”, avalia Gregolin.

Fonte: opresenterural.com.br



Postado em 29-11-2024 à33 10:29:33

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