Chuvas no RS: setor aquícola ainda sofre enquanto planeja recuperação

Mesmo após um mês das enchentes históricas que afetaram drasticamente o Rio Grande do Sul (RS), o Estado continua enfrentando situações críticas. Conforme a Defesa Civil divulgou no domingo, 2 de junho, dos 497 municípios do Estado, 475 foram afetados pelas chuvas. Os números da tragédia ainda são maiores: 37.328 pessoas em abrigos, 580.111 pessoas desalojadas, 172 óbitos confirmados, 42 desaparecidos, 77.873 pessoas resgatadas e 12.543 animais.

O setor aquícola, crucial para a economia gaúcha, também sofreu pesadas perdas e lida com prejuízos enquanto planeja recuperação.

O Rio Grande do Sul ocupa a 12ª posição no ranking nacional de peixes de cultivo, conforme dados da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR). Em 2023, foram produzidas 26.800 toneladas de peixes no Estado, sendo 17.000 toneladas de “outras espécies”, como carpas, trutas e panga - o que rendeu ao Estado a liderança na categoria.

Fernanda Kronbauer, médica veterinária da Acquaviva Piscicultura, localizada ao norte do Estado, conta que as chuvas de setembro do ano passado já haviam ocasionado prejuízos, mas desta vez foi pior e sua produção de alevinos sofreu perdas significativas com grande parte das áreas alagadas pelos rios. "Perdemos em torno de 500.000 alevinos. Choveu 300 mm em 24 horas, então o nível do rio subiu muito rapidamente", lamenta.

Conforme ela, atualmente ainda não receberam ajuda para reparar a situação, mas já existem reuniões com parte do governo. "Estão se mobilizando para tomar algumas medidas e agora a situação aqui está normalizada. As perspectivas futuras são seguir em frente, secar todos os tanques que foram alagados e separar as espécies que se misturaram. O trabalho é longo ainda e infelizmente não temos como ir contra a natureza, somente aceitar e preservar!", conta.

Segundo Gabriela Mattei, presidente da Tilápia-RS e coordenadora da Câmara Setorial de Aquicultura Gaúcha (Seapi-RS), o setor aquícola estadual tem trabalhado de duas formas: primeiro, com a realidade dos dias atuais e, segundo, com um plano para o futuro e o desenvolvimento. “Está tudo ainda muito instável, a gente não sabe o que vem pela frente e os problemas sérios que o Estado vai enfrentar, não apenas na área aquícola, mas em todos os setores, todas as cadeias produtivas e principalmente as pessoas”, fala.

Os dados oficiais sobre os prejuízos ainda estão sendo levantados, dificultados pela falta de comunicação e condições de trabalho dos técnicos locais. Este levantamento envolve o governo junto à Secretaria de Agricultura RS, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS) e a Câmara Setorial de Aquicultura Gaúcha. "Ainda estamos em processo de levantamento, e acredito que só teremos uma visão mais clara das perdas em mais um mês", disse Mattei.

O levantamento detalhado dos prejuízos, essencial para planejar a recuperação, faz parte das ações imediatas junto ao setor. Em maio, Mattei conta que representantes da atividade realizaram uma reunião com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), e uma nova reunião está prevista para junho, aguardando os dados completos dos danos.

Além disso, está sendo formado um grupo técnico nacional para elaborar um plano de reestruturação e desenvolvimento, buscando apoio de especialistas de outros estados. "Estamos trabalhando em cima desse plano de reestruturação, tanto na Câmara Setorial, como organizando a questão da nossa realidade hoje e do nosso futuro, que acreditamos que seja o sistema produtivo para o Estado, que são os sistemas fechados de produção, principalmente em relação à proteção do meio ambiente”, diz.

Mattei explica que o Rio Grande do Sul enfrenta particularidades climáticas, como o frio intenso, e um histórico de restrições na produção de tilápia na Bacia do Rio Uruguai, que limitou o desenvolvimento do setor. Apesar dessas barreiras, ela pontua que o Estado possui um potencial significativo para a aquicultura, com uma grande disponibilidade de recursos hídricos.

A produção de tilápia, crucial para a alimentação, conforme ela, tem segurança jurídica após anos de batalhas legais e esse potencial da produção se estende para outras espécies. “O consumo do mercado gaúcho também existe, ele é grande, apesar de ser um Estado conhecido pelo consumo de carne [bovina], mas o Rio Grande do Sul tem uma cadeia produtiva estruturada.”

Neste cenário de reconstrução, a resposta à crise tem sido marcada pela solidariedade, com apoio de outros estados e de especialistas de diversas áreas. “Eu estou contando com ajuda, não somente do Estado, e em todos os sentidos. Todos os estados brasileiros estão nos ajudando e contribuindo, fiquei muito feliz e muito surpresa na nossa atividade com pessoas que querem ajudar com o seu conhecimento técnico e isso vai ser muito bom para embasar esse plano de reestruturação e desenvolvimento”, finaliza Mattei.

Fonte: seafoodbrasil.com.br



Postado em 07-06-2024 à36 16:54:36

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